Impacto das Mudanças Climáticas sobre as Mulheres e Recomendações para sua Inclusão nas Finanças Climáticas

Moçambique foi assolado pela tempestade tropical Freddy, em Fevereiro de 2023, tendo provocado danos, que tiveram um impacto directo nas comunidades residentes nos locais mais afectados. De entre várias pessoas afectadas, encontram-se grupos vulneráveis, onde se incluem as mulheres, que sofrem duplamente os impactos severos destas situações relacionadas com as mudanças climáticas.

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) cerca de 60.000 mulheres grávidas foram impactadas pela primeira passagem do ciclone Freddy com inundações, em Moçambique. De acordo com dados oficiais mais de 200 mil pessoas foram afectadas pelo ciclone, sendo que mais de 18 mil casas foram destruídas, causando 37.200 deslocados e refugiados. Para além de afectar Moçambique, o ciclone Freddy também devastou outros países da região Austral de África, nomeadamente Madagáscar e Malawi, tendo este último sido o mais afectado dos três países.

No dia a dia, é notório que as mulheres têm um papel importante para o meio ambiente, como por exemplo, através da reciclagem de resíduos sólidos, reflorestamento e outras acções benéficas ao meio ambiente. Com a ocorrência de mudanças climáticas, várias mulheres afectadas pelo ciclone Freddy, tiveram casas destruídas, seus negócios afectados com a destruição de culturas alimentares, que prejudicou o rendimento das suas famílias. Por isso, é importante a implemenentação de estratégias de finanças climáticas, com financiamentos para combater as mudanças climáticas, como o investimento em energias renováveis e outras indústrias ambientais, que inclua as mulheres como beneficiárias de oportunidades económicas de emprego, financiamentos para os seus negócios, bem como apoio na reconstrução das suas casas.

Os fenómenos de mudanças climáticas têm sido recorrentes no país, e são consequência de uma conjuntura global, que inclui a componente económica. Moçambique tem sido um dos países afectados por estas situações caracterizadas por fortes tempestades, descargas de grandes quantidades de precipitação, causando inundações e afectando grupos sociais já vulneráveis. Numa situação de mudanças climáticas com a ocorrência de ciclones, com cheias e grandes tempestades, as mulheres ficam mais susceptíveis a riscos de violência baseada no género como o assédio, a violação, pois com a destruição das suas casas, elas têm de dormir em centros de acomodação, partilhando espaços comuns com outras pessoas. 

Nesta perspectiva, nota-se que as mudanças climáticas têm efeitos nefastos para o país, em termos sociais e económicos.

Segundo o Banco de Moçambique (Banco Central) através do “Documento sobre Conjuntura Económica e Perspectivas de Inflação”, publicado em finais de Março de 2023 – em Fevereiro deste mesmo ano (após a ocorrência do ciclone Freddy no país), a inflação anual acelerou de 9,78% para 10,30%, através da subida dos preços de bens alimentares em face da ocorrência de choques climáticos (devido a ocorrência do ciclone Freddy), e o aumento dos preços dos bens e serviços básicos, como a subida dos preços dos transportes públicos, afectando a economia básica de muitas mulheres e suas famílias.

Ainda de acordo com o Banco Central, “para o curto prazo, antevê-se a manutenção deste perfil de inflação”, caracterizado pela referida subida dos preços dos bens e serviços básicos. O mesmo documento acrescenta que os riscos associados a estas perspectivas tendem a agravar-se, com realce para dois aspectos, nomeadamente: “a elevada pressão sobre a despesa pública, e a magnitude do impacto dos recentes choques climáticos”.

A subida dos preços de bens e serviços básicos, ocorrido como consequencia do impacto do ciclone Freddy, afecta maioritariamente pessoas de baixa renda, consumidores desses bens e serviços básicos, onde as mulheres são a maioria, sendo um grupo social com menos acesso a recursos financeiros para fazer face a esta inflação.

O Banco Central escreve ainda que “a inflação anual, medida pela variação do Índice de Preços no Consumidor (IPC) de Moçambique, passou de 9,78%, em Janeiro, para 10,30%, em Fevereiro. A evolução do nível geral de preços em Fevereiro, é explicada pelo aumento dos preços dos bens alimentares, sobretudo das frutas e vegetais, em face da ocorrência de choques climáticos, da subida das propinas escolares do ensino superior público, e da subida da tarifa de transporte de passageiros na cidade capital-Maputo”, dificultando a vida económica de muitas mulheres e suas famílias.

Para além de afectar a subida dos preços de bens de consumo e serviços básicos, os ciclones destroem postos de saúde, dificultando o acesso a serviços de saúde básica para as pessoas afectadas, onde as mulheres grávidas ficam limitadas para ter cuidados de saúde materno-infantil, enfrentando dificuldades de acesso a postos de saúde para ter assistência médica em situações de parto. De acordo com o FNUAP, estima-se que cerca de 60.000 mulheres grávidas foram impactadas pelo ciclone Freddy, no país.

As cheias também causam a contaminação da água, provocando a eclosão de doenças como a cólera, colocando em risco a vida de muitas pessoas, e fazendo com que as mulheres e raparigas tenham de percorrer longas distâncias, à procura de água potável para as suas famílias. 

Em termos económicos (devido ao ciclone Freddy), muitas mulheres tiveram os seus negócios afectados, como é o caso de mulheres agricultoras, comerciantes e revendedoras informais de culturas alimentares, que tiveram danos económicos, pois o ciclone destruiu vários hectares de culturas, afectando a economia de várias famílias.

Considerando que a maioria das mulheres encontram o seu sustento atraves da venda de produtos agricolas nos mercados informais, várias mulheres vendedoras de vegetais e legumes no sector informal, relataram que tiveram grandes perdas financeiras, devido aos estragos que as cheias do ciclone Freddy causaram, tendo danificado muitos hectares de culturas agrícolas. Outras mulheres agricultoras também reportaram que perderam uma parte significativa da sua produção, devido ao impacto das inundações que destruíram culturas de repolho, tomate, batata, tendo estas perdido o investimento feito em insumos, o que afectou o rendimento dos seus negócios. Como consequência, os danos causados pelas enchentes do ciclone Freddy, causaram a escassez de produtos alimentares nos mercados informais, e também a subida dos preços desses vegetais, tendo encarecido o bolso e as finanças de muitas mulheres e suas famílias.

Para além de consequências económicas, muitas mulheres tiveram as suas casas destruídas pelo ciclone,  e tendo que dormir em centros de acomodação, e segundo relatos de muitas mulheres, elas enfrentam situações de violência baseada no género, como violações. Também enfrentam o problema de falta de água potável nos centros de acomodação, onde muita mulheres e raparigas têm de percorrer longas distâncias à procura de água potável para as suas famílias. Alguns centros de acomodação também são locais sem condições básicas, onde as mulheres têm de dormir em tendas, e enfrentar o frio que se vive no período do inverno, porque elas não possuem condições financeiras para reconstruír as suas casas, e clamam por apoio para o efeito.

Alguns locais de acomodação das vítimas de mudanças climáticas também ficam distantes de infraestruturas com serviços básicos como hospitais, e não têm transporte para as mulheres e outros reassentados poderem chegar à vila mais próxima, para terem acesso a esses serviços.

De um modo geral, as mudanças climáticas afectam a vida social e económica do país, e os grupos mais vulneráveis como as mulheres, sofrem as consequências destes fenómenos.

À semelhança de outros países Africanos, Moçambique tem sofrido efeitos severos de mudanças climáticas, apesar de fazer parte dos países que menos emitem gases de efeito estufa como o dióxido de carbono, e menos contribui para o problema.

Contudo, é importante fazer face a esta situação, através da implementação de acções de mitigação e resiliência às mudanças climáticas, como é o caso da criacao de uma estratégia de finanças climáticas e outras acções que reduzam a emissao de dioxido de carbono, e que inclua grupos vulneráveis como as mulheres, como beneficiárias no acesso a oportunidades económicas.

Considerando que finanças climáticas são qualquer tipo de financiamento para combater as mudanças climáticas, a implementação de programas e uma estratégia de finanças climáticas vai permitir captar e investir recursos para o desenvolvimento de projectos de resiliência às mudanças climáticas, como por exemplo, projectos que impulsionam o uso de energias renováveis, onde as mulheres podem ser revendedoras de paineis solares e beneficiar as suas comunidades expandindo o acesso a energias limpas para varias mulheres que se encontram em zonas reconditas sem energia. Através de uma Estratégia de Finanças Climáticas, também pode-se investir em outras indústrias ambientais, e ao mesmo tempo impulsionar a igualdade de género co-beneficiando as mulheres, através da criação de postos de trabalho, oportunidades de financiamentos para as mulheres devenvolverem pequenos negócios, bem como disponibilizar apoio na reconstrução das suas casas, ora destruídas pelos ciclones.

“Pela inclusão económica das mulheres em estratégias e programas de finanças climáticas”.

Associação Nosso Futuro – APROFIT

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